Capela das Almas do Purgatório - Travessão Divisa
Padroeira
Almas do Purgatório
Demais quadros presentes na igreja
Santa Bárbara, Santa Lúcia e Nossa Senhora Imaculado
Coração de Maria
Igreja nova
Padroeiro
São Peregrino
Demais santos presentes na igreja
Santa Lúcia, Santa Bárbara e Nossa Senhora do Imaculado
Coração de Maria e uma réplica do Quadro de Nossa
Senhora Liberta as Almas do Purgatório
Sagra festiva
Anualmente em junho em honra a São Peregrino
O Travessão Divisa, localizado a dois quilômetros
do centro de Nova Pádua, integra a área do chamado
Novo Território, da antiga Colônia Caxias. Possui 29 lotes
rurais que foram traçados a partir de 1885 e colonizados
por imigrantes oriundos do Norte da Itália. Seu nome foi
escolhido, segundo os pesquisadores Mário Gardelin e
Rovílio Costa, da “própria colônia já que se situa entre a
divisa de duas áreas territoriais”.
O Travessão Divisa possui uma das mais peculiares
histórias de Nova Pádua, já que sua primeira igreja
foi construída em honra as Almas do Purgatório, graças
a um de seus primeiros moradores. O imigrante italiano
Ângelo Arcaro adquiriu em 1893, o lote rural número 10,
do Travessão Divisa. Descrito como uma
pessoa culta e bastante religioso, era um
importante líder comunitário, sendo inclusive
um dos integrantes da comissão que
recebeu o coronel Alfredo de Abreu em 13
de abril de 1904 para a instalação de Nova
Pádua como 4º distrito de Caxias. Era também
sacristão da Igreja de Nova Pádua e
auxiliar de Dom Julio Scardovelli. A história
conta que certa noite, enquanto retornava
para casa, após reunião na paróquia e com
o dinheiro dos paroquianos, a fim de protegê-
lo dos que atacavam a igreja, parou
em uma bodega. Lá, foi avisado que havia
ladrões na estrada e que os mesmos estariam
dispostos a assalta-lo. No caminho
para casa, com receio dos ladrões, Arcaro
invocou as Almas do Purgatório para que
intercedessem por ele e pelo valor. Alguns
tiros foram disparados, mas ouviram-se
sussurros e os ladrões saíram correndo.
Os moradores ouviram as vozes e
as associaram as Almas do Purgatório. Salvo
da emboscada, Arcaro marcou o local
com algumas pedras e prometeu construir
ali um capitel. As terras pertenciam a Martin
[Martino] Tatto que as vendeu para
construção do capitel. No ano de 1909,
uma escritura em nome das Almas do Purgatório
foi lavrada.
O jornal A Época, de 10 de novembro
de 1940, em uma matéria intitulada
‘As Almas do Purgatório Compram Terras’
transcreveu na íntegra a escritura pública
assinada pelo escrivão distrital Benedetto
Bigarella. A mesma escritura consta na página
89, do livro ‘Paróquia Santa Tereza –
Cem Anos de Fé e História – 1884 – 1984’,
de Ernesto A. Brandalise.
Saibam todos quantos este público instrumento
de escritura pública de compra e venda
virem, que no ano de mil e novecentos e nove,
aos cinco dias do mês de Abril, do dito ano, neste
quarto distrito de Caxias, Estado do Rio Grande do
Sul, em meu cartório compareceram parte juntas
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e acordadas a saber; de uma parte, como outorgantes
vendedores, Martin Tatto e sua mulher Teresa Perotto; e
de outra parte, como representante do Capitel das Almas
do Purgatório o cidadão Arcaro Angelo, todos residentes
neste quarto distrito e reconhecidos de mim escrivão e
das duas testemunhas abaixo nomeadas e assinadas do
que dou fé. E por eles outorgantes Martin Tatto e sua
mulher Teresa Perotto me foi dito que, sendo senhores
a justo título e possuidores por compra feita ao Estado
de um pedacinho de terra do lote rural, sob número 9
(nove), Travessão Divisa, décima légua [Novo Território],
quarto distrito deste município, com a área superficial
de sessenta e quatro metros quadrados, com as confrontações
seguintes; Ao Norte com terras do Travessão
Paredes; ao Sul, com a estrada geral; a Leste com a
estrada do Travessão Paredes, a Oeste, com terras de
Cucolotto Matteo; assim me foi dito por eles outorgantes
que vendiam como vendido têm ao representante das
Almas do Purgatório para edificar um Capitel, que ficará
da propriedade das mesmas Almas toda vida, sendo o
representante o Cidadão Arcaro Angelo; vendem pelo
preço e quantia de vinte e cinco mil reis, que os vendedores
declaram de ter recebido em moeda corrente do
Estado; por isso transmitem a (pessoa do) digo, às Almas
do Purgatório, tomam posse, jus domínio e servidões
ativas que exerciam em dita propriedade, para o que a
considere como delas que fica sendo dóra em diante das
suas legítimas propriedade para sempre, podendo tomar
posse dela quando queiram, independente das autoridades
de justiça, fazendo eles, vendedores, esta venda
boa, firme e valiosa e de tirar As Almas do Purgatório e o
representante delas de qualquer dúvida presente ou futura.
E logo, pelo representante me foi dito que aceitava
a presente escritura, tal qual como se contem e declara,
e me apresentou o conhecimento do imposto do teor seguinte;
Número duzentos e sete, Transmissão de propriedades,
Exercício de mil novecentos e nove: imposto; mil e
trezentos e setenta e cinco reis, escolar; sessenta e sete
reis; profissional, vinte e sete reis, total, mil e quatrocentos
e sessenta nove réis. As folhas dezoito e verso, seis
verso, quarenta e quatro verso. Antes do julgamento por
sentença da presente justificação, protesta apresentar os
demais versos dos competentes livros, ficam lançadas em
receita as quantias acima indicadas, cujo total é de mil
quatrocentos e sessenta e nove réis, foi pago pelo representante
das Alma do Purgatório, Sr. Arcaro Angelo. A
transmissão corresponde a vinte e cinco mil réis, porque
comprou a Martin Tatto e sua mulher um retacinho de
terras do lote rural número nove, do travessão Divisa,
décima légua, quarto distrito deste município, com a
área de superficial de sessenta e quatro metros quadrados.
Pagou cinco e meio por cento e as taxas respetivas.
Coletoria do Estado, em Caxias, trinta e um de março de
mil novecentos e nove. O Coletor João Lucena. O escrivão
Coroliano Coelho de Souza. — Depois de escrita esta, eu,
escrivão, a li em voz alta, perante eles, que reciprocadamente
a outorgaram, aceitaram e assinaram, assinando a
rogo da outorgante Teresa Peroto, por não saber escrever,
Luigí Pauletti, com as testemunhas, Carlos Montavani e
João Compagnoni, domiciliados neste quarto distrito e
conhecidos de mim Bigarella Benedetto, escrivão Distrital,
que o escrevi e assino. Martin Tatto, Luigi Pauletti, Arcaro
Angelo, Carlos Montavani e João Compagnoni. O escrivão
Distrital Bigarella Benedetto. Nada mais continha na referida
escritura que bem e fielmente foi copiada do próprio
original no dia da mesma data a qual me reporto e dou fé.
Eu, Bigarella Benedetto, escrivão Distrital que o escrevi e
assino em público e raso. Em testemunha da verdade. O
escrivão distrital (Ass.) Bigarella Benedetto» Despezas (sic)
— 16$300. (Jornal A Época, 10 de novembro de 1940, p.2)
Lavrada a escritura, um capitel em madeira
foi edificado. Nele foi colocado um quadro
de Nossa Senhora do Carmo salvando as almas
do fogo do purgatório. No ano de 1925, a capela
em madeira deu lugar a uma igreja em alvenaria,
construída com tijolos fabricados manualmente
pelos próprios moradores. O quadro das Almas do
Purgatório seguiu para a nova igreja. A pequena
capela em estilo romano abriga quadros antigos
de devoção doados por moradores e uma pequena
antiga lamparina de cor vermelha à base de
óleo vegetal e com um pavio inserido numa rolha
de cortiça, que era utilizada pelos antigos moradores
como uma forma de proteção espiritual
contra obstáculos, como doenças, e a garantia de
um parto tranquilo para as mulheres. Atualmente
a lamparina é acesa artificialmente. A igreja também
possui um pequeno orifício em sua parte
frontal que permite a doação de dinheiro para as
almas do purgatório.
De acordo com pesquisa realizada por
Vera Lúcia Tatto Pan, em 4 de maio de 1941 foi introduzido
no capitel a imagem de Santa Bárbara,
protetora contra temporais. A imagem foi doada
por Benjamin Arcaro, filho de Ângelo Arcaro. Já
em 22 de agosto de 1947 foi colocada a imagem
de Santa Lúcia, protetora dos olhos. A imagem foi
doação por uma graça alcançada pela família de
Vitório e Giacomina Tatto – ele filho de Martino
Tatto. Em data incerta foi introduzida também por
uma graça alcançada a imagem de Nossa Senhora
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do Imaculado Coração de Maria, doada pela família
de Stéfano e Giusepe Barcaro.
Em 5 de abril de 1970 foi inaugurado o
novo salão da capela das Almas. Estava concluído
e pago, conforme registros do Livro Tombo
da Paróquia Santo Antônio. No dia 15 de julho
de 1979 ocorreu a bênção da pedra fundamental
do Centro Social do Divisa. No dia 9 de julho
de 2000, a comunidade celebrou os 75 anos
de construção da igreja dedicada as Almas do
Purgatório com grande festividade. Um ano depois,
em 2001, a diretoria da capela convidou os
moradores para a realização de uma assembleia
para decidir sobre a construção de uma nova
igreja. Em conjunto, a comunidade optou pela edificação
e a diretoria foi designada a dar andamento
aos trabalhos. O local foi escolhido pelo padre Mário
Pasqual, em frente a antiga igreja, em terras doadas
por Olavo Tonello e família. Após dois anos, em 6
de junho de 2004, ocorreu a inauguração da nova
igreja do Travessão Divisa. A bênção foi dada pelo
bispo Dom Paulo Moretto, que solicitou que a comunidade
preservasse a antiga igreja. O templo foi
edificado com doações em dinheiro, mão de obra
e material de construção. No ano de 2005, outras
reformas de construção e mudanças de localização
interna foram realizadas. Conforme o Jornal Correio
Riograndense, de 7 de junho de 2004:
Nova capela
da comunidade
em estilo
moderno e
inaugurada
em 2004.
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A comunidade do Travessão Divisa, Nova Pádua, inaugurou
a nova capela dedicada às Almas do Purgatório.
A cerimônia contou com a presença do bispo diocesano
Dom Paulo Moretto, que pela primeira vez presidiu uma
celebração religiosa no Travessão Divisa. Mais de 600
pessoas participaram da inauguração, da missa e do
almoço festivo. Para o bispo diocesano, a consagração
da nova igreja mostra o fortalecimento da união e da
fé da comunidade. Durante a missa, um dos pedidos
que Dom Paulo fez aos moradores foi a preservação da
antiga capelinha dedicada às Almas do Purgatório. Havia
algum tempo a comunidade estava dividida entre os que
queriam manter a velha capela e os que queriam demoli-
la. “Peço-lhes que a pequena capela continue como
está, com a imagem de Nossa Senhora do Carmo e com
o quadro das almas, doado por Ângelo Arcaro, do jeito
que sempre esteve”, aconselhou o bispo. (Jornal Correio
Riograndense, 7 de junho de 2004, p. 13).
A igreja, em estilo moderno, recebeu as
imagens de Santa Lúcia, Santa Bárbara e Nossa
Senhora do Imaculado Coração de Maria e uma
réplica do Quadro de Nossa Senhora Liberta as
Almas do Purgatório. Permaneceu no capitel o
quadro original das Almas do Purgatório. Conta
ainda com aberturas em alumínio com janelas
em vidros coloridos, sacristia, teto com rebaixe
hexagonal, 15 estações da Via Sacra e uma caixinha
externa para doações – no mesmo estilo da
primeira igreja.
No ano de 2008, a bisneta de Martino
Tatto, Vera Lucia Tatto Pan e família, iniciou uma
campanha para arrecadação de recursos para
reformas e manutenção do capitel antigo, em
vista de divergência sobre a conservação do
mesmo. Parte da comunidade acreditava que o
melhor seria a sua demolição. Ao mesmo tempo,
muitos moradores começaram a participar
de uma peregrinação em São José do Ouro em
honra a São Peregrino, protetor contra o câncer.
Surgiu a ideia de introduzir e venerar o santo
também na capela. Vera Lucia em sua pesquisa
‘Memorial Comunitário – Capela das Almas do
Purgatório, s/d, p. 79) escreveu:
Após um diálogo com o Pároco Pe. Hilário Piazza, ele
aprovou o pedido, mas impôs uma ordem a ser cumprida
pela diretoria desta capela: a restauração e manutenção
da antiga Capela das Almas, como condição para
autorizar a Festa e Introdução da imagem de São Peregrino
na comunidade. Esta ordem nos foi imposta, devido
a desentendimentos entre os sócios desta comunidade.
Pois, após a construção da nova igreja, mesmo com o
pedido oficial da Mitra Diocesana, através do Sr. Bispo D.
Paulo Moretto, no dia da inauguração da nova capela, as
contrariedades continuaram criando rivalidades e divergências
entre as pessoas. Criou-se uma polêmica onde
existiam “os contra e os a favor” da preservação do antigo
capitel, chegando até a ser notícia de imprensa, por se
tratar de um monumento histórico, onde sua preservação
sempre ficou em evidência”. (PAN, s/d, p. 79)
Em 1º de junho de 2008, ocorreu uma
carreata com bênção da imagem de São Peregrino.
A estátua foi adquirida por meio da doação
de 70 devotos e custou R$ 1.300,00. No ano de
2020, através de uma campanha de arrecadação
de fundos, o antigo capitel foi totalmente restaurado
e colocado em seu interior um quadro com
o resumo de sua história, além das fotos de Angelo
Arcaro e Martino Tatto.
Primeiros proprietários dos lotes rurais
do Travessão Divisa
Conforme descrição no Livro Povoadores da
Colônia Caxias
Lote 1: Giovanni Antonio Cechini
Lote 2: Nada consta
Lote 3: Giovanni Zanini
Lote 4: Giuseppe De Boni
Lote 5: Giacomo Pregol
Lote 6: Giuseppe Fibola
Lote 7: Luigi Barcaro
Lote 8: Giuseppe Tronco
Lote 9: Martino Fato
Lote 10: Angelo Arcaro
Lote 11: Francisco Menegat
Lote 12: Giovani Menegat
Lote 13: Francesco Menegat
Lote 14: Domenico Menegat
Lote 15: Angello Ballen
Lote 16: Pasquale Pauletti
Lote 17: Nada consta
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Lote 18: Valentino Gasso
Lote 19: Pietro Menegat
Lote 20: Vittorio Dalla Giacomazzo
Lote 21: Giovanni Darold
Lote 22: Felice Vedana
Lote 23: Gaetano Morando
Lote 24: Luigi Scorsato
Lote 25: Bortolo Marcolan
Lote 26: Pietro Sartore
Lote 27: Giovanni Menagat II
Lote 28: Giovanni Bisinelio
Lote 29: Angelo Pan